Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar
um aspecto,
às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
À
ponta do lápis o traço. Onde expira um pensamento está uma idéia,
ao
derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a
magia
- é para lá que eu vou. Na ponta dos pés o salto. Parece a
história de alguém
que foi e não voltou - é para lá que eu vou. Ou não
vou? Vou, sim.
E volto para ver como estão as coisas. Se continuam
mágicas. Realidade?
Eu vos espero. E para lá que eu vou. Na ponta da
palavra
está a palavra. (...) À beira de eu estou mim. É para mim que eu
vou.
E de mim saio para ver. Ver o quê? Ver o que existe.
Depois de
morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho.
Sonho fatídico.
Mas depois - depois tudo é real.
E a alma livre procura um canto para se
acomodar. Mim é um eu que anuncio. (...)
Amor: eu vos amo tanto. Eu amo
o amor. O amor é vermelho. (...)
À extremidade de mim estou eu. Eu,
implorante, eu a que necessita,
a que pede, a que chora, a que se
lamenta. Mas a que canta.
A que diz palavras. Palavras ao vento? que
importa,
os ventos as trazem de novo e eu as possuo. Eu à beira do
vento.
O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou.
E me
transmuto. (...) Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor.
E à beira do
amor estamos nós.
Clarice Lispector
Sibceramente: O Garoto do Blog
Pai abençoado proteja minha FILHA e diga a ela que vivo apenas para abraça-la de novo