"Domine Deus omnipotens in cuius manu omnis victoria Consistit"

terça-feira, 28 de agosto de 2012

 Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto,
 às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.
 À ponta do lápis o traço. Onde expira um pensamento está uma idéia, 
ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia
 - é para lá que eu vou. Na ponta dos pés o salto. Parece a história de alguém
 que foi e não voltou - é para lá que eu vou. Ou não vou? Vou, sim. 
E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas. Realidade? 
Eu vos espero. E para lá que eu vou. Na ponta da palavra 
está a palavra. (...) À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou.
 E de mim saio para ver. Ver o quê? Ver o que existe. 
Depois de morta é para a realidade que vou. Por enquanto é sonho. 
Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. 
E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio. (...)
 Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor. O amor é vermelho. (...) 
À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, 
a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. 
A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, 
os ventos as trazem de novo e eu as possuo. Eu à beira do vento. 
O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou.
 E me transmuto. (...) Que estou eu a dizer? Estou dizendo amor.
 E à beira do amor estamos nós.
 
Clarice Lispector
 
Sibceramente: O Garoto do Blog
 
Pai abençoado proteja minha FILHA e diga a ela que vivo apenas para abraça-la de novo

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